15 novembro 2007

O meu olhar é nítido como um girassol # My look is clear as a sunflower


O meu olhar é nítido como um girassol.
Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para a esquerda,
E de vez em quando olhando para trás...
E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
E eu sei dar por isso muito bem...
Sei ter o pasmo essencial
Que tem uma criança se, ao nascer,
Reparasse que nascera deveras...
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do Mundo...

Creio no mundo como num malmequer,
Porque o vejo. Mas não penso nele
Porque pensar é não compreender...

O Mundo não se fez para pensarmos nele
(Pensar é estar doente dos olhos)
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo...

Eu não tenho filosofia; tenho sentidos...
Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
Mas porque a amo, e amo-a por isso
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe por que ama, nem o que é amar...

Amar é a eterna inocência,
E a única inocência não pensar...

Alberto Caeiro, em "O Guardador de Rebanhos", 8-3-1914

Um poema lindíssimo e com muito "bom feeling" que conheci pela voz de Elisa Lucinda (actriz brasileira) quando ela cá veio fazer uns espectáculos. Hoje lembrei-me de vo-lo mostrar.
Uma curiosidade: tal como ela, também eu tenho olhos de girassol! (na foto não se percebem as pintinhas amarelas torradas misturadas no castanho) Sempre pensei que os direitos de autor desta expressão pertenciam ao meu marido, então namorado, mas afinal... Fernando Pessoa!... Só podia mesmo!...

Acho uma barbaridade traduzir poesia, mas compreendo, porque afinal não podemos entender todas as línguas do mundo, não é verdade?! E isto é para justificar esta tradução selvagem.

English version:


My look is clear as a sunflower.
I have the habit of walking the roads
Looking to the right and left,
And from time to time looking backward...
And what I see every moment
It is what I had never before seen,
And I know how to notice it very well...
I know how to have the essential amazingness
That a child has if, at birth,
Noticed that was born...
I am born every moment
To the eternal newness of the World...

I believe in the world as a daisy,
Because I see. But I do not think it
Because thinking is not understanding...

The World is not done to think it
(Thinking is being ill of the eye)
But to look at it and to agree with...

I do not have philosophy, I have senses...
If I speak of nature it isn't because I known what it is,
But because I love it, and love it for it
Because who loves never knows what he loves
Neither knows why he loves, or what is love...

To love is the eternal innocence,
And the only innocence is not thinking...

Alberto Caeiro, "The Guardador of Rebanhos", 8-3-1914

A beautiful poem and with very "good feeling" that came to me by the voice of Elisa Lucinda (Brazilian actress) when she came here to do some shows. Today I reminded to show you.
One curiosity: as she, I too have sunflower eyes! (the picture does not show the yellow roasted spots mixed in the brown) I always thought that the copyright of this expression belonged to my husband, then boyfriend, but then again... Fernando Pessoa!... Who else?!...

I think it's barbaric to translate poetry, but I understand, because after all we can not understand all the languages of the world, isn't it?! And this is to justify this wild translation.

5 comentários:

Blog do Atelier da Jô disse...

UAU AMIGA QUE LINDO OLHAR!

Unknown disse...

Que lindo post, que bela a foto do teu olhar...
Adoro Fernando Pessoa e os seus heterónimos e este poema é particularmente belo.
Beijinhos e obrigada,
Lia.

Anónimo disse...

Olá Paula!
Adorei este post!! Adoro Fernando Pessoa e heterónimos! Muito obrigada!
Obrigada também pelo comentário!;)
Beijocas
Cláudia

eu disse...

Lindo poema e lindos olhões...são os teus, poix...

MiaBiju disse...

Bom post :) Adorei! Apesar de gostar mais do Bernardo Soares, o Alberto também tem bons poemas e este é um bom exemplo.
Beijoca grande
Ana

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