texturas urbanas

Naquele dia, em Setúbal, não olhei só para as paredes. Vi também o chão e tudo o resto. Apeteceu-me fazer um exercício mental, que a minha professora de desenho, Rosa Fazenda, uma vez me ensinou: olhar os espaços negativos, ou seja, não para os objectos em si, mas para os espaços entre eles. Vamos mentalmente traçando os contornos dos espaços negativos e é uma excelente forma de passar tempos de espera, por exemplo. Não foi o caso desta vez, mas ao focar a minha atenção nas texturas que me rodeavam, foi inevitável ver os espaços negativos. É um treino do olhar. É uma forma excelente de nos abstrairmos das formas dos objectos e desracionalizar o desenho. É desenhar não olhando a forma que queremos desenhar mas o seu oposto, ou neste caso a sua forma complementar.
Bom, isto já está a ficar demasiado teórico. Perco-me em delírios pouco palpáveis! Desculpem! Por momentos voltei aos tempos de estudante em que vagueava pelas ruas de outra cidade em busca de treinar uma diferente forma de ver.

Estes chãos são magníficos! Viva a calçada portuguesa!

Aqui na placa central da Av. Luísa Todi (Setúbal - Portugal), com excepção da foto no canto superior direito que é na Praça do Bocage.
Lindíssimas calçadas que zigue-zagueiam sob os nossos pés! Apesar de já há muito ter notado a beleza destas paragens, não me canso de as olhar. E sempre que aqui passo sem a pressa habitual, pareço tontinha, com síndrome de cata-vento, a olhar para os chãos, para as paredes, os cimos dos edifícios, os pombos que poisam na cabeça da estátua, as copas das árvores agora despidas...

Nota:
Foi uma pena não ter a máquina fotográfica comigo neste dia. Mais uma vez tive de me servir do telemóvel. Mas até gosto do tratamento "gasto" que conferiu às imagens. Parecem mais antigas assim.