Na Biblioteca não são só as crianças que merecem atenção. As mães delas também!
Sabiam que a Biblioteca tem verba para actividades lúdicas com as mães das crianças que participam nas outras actividades que promove? Pois é! Pelo menos por aqui tem.
Acompanhando a minha filha à hora do conto e à hora das actividades de expressão plástica e não só (* * * *), fiquei a conhecer as "mães da biblioteca". Percebi que há muitas mães, de diversas nacionalidades por cá, que estando desempregadas e sempre empenhadas na educação dos seus filhos, têm disponibilidade para os levarem até à biblioteca. A Biblioteca também percebeu isso e criou um projecto de integração das mães nas actividades promovidas. Essas actividades consistem normalmente em manualidades diversas (como a caixa que podem ver neste post, que foi o meu trabalho da semana passada), mas não só. Temos também em mãos um projecto de livro infantil para ser apresentado no próximo Dia da Criança. O esboço do texto foi elaborado por nós, as mães, e agora a ilustração e produção vai ser em parceria com contactos da Biblioteca. Podem achar estranho eu falar da Biblioteca como se fosse um ser, mas é uma entidade composta por várias pessoas interessadas não apenas em disponibilizar a leitura à população, mas principalmente em acolher e integrar uma crescente "fatia" da sociedade, que são as novas donas de casa. Sim, porque com o crescente desemprego, mais mães foram acabando por se resignar a ficar em casa. Passámos novamente para primeiro foco das nossas vidas a educação dos filhos, que durante vários anos fomos acumulando com a actividade profissional, em nome da emancipação da mulher. Fomo-nos transformando em Super-Mulheres sem direitos, só deveres. Pois em nome do direito à igualdade no trabalho e na vida em geral, passámos a ter o dever de ser excelentes profissionais (de preferência melhores do que os colegas homens, que regra geral continuam a ganhar ordenados superiores), o dever de continuarmos a ser mães irrepreensíveis, donas de casa excepcionais e esposas incansáveis. Quando uma mulher escolhe não casar e não ter filhos é olhada de lado e ferozmente criticada como se fosse uma aberração da natureza. Ao longo de anos, acumulámos todas estas tarefas e apesar de dizerem que os tempos estão a mudar e que os homens já dividem tarefas porque finalmente perceberam que as mulheres são também seres humanos de pleno direito, na prática não é muito o que acontece. Culpa das mães que os educaram, culpa deles próprios, culpa a sociedade... Isso agora não interessa nada! O que é um facto é que no campo das mentalidades, pouca coisa mudou até nas mulheres.
Pois eu defendo que cada pessoa deve ter o direito de escolher o caminho que a fizer sentir melhor, mais realizada, mais feliz! Sem por isso ser recriminada. Só assim a sociedade melhorará. Não é com gente frustrada e com a sensação de que simplesmente não consegue fazer o que lhe é suposto, mesmo que não reserve tempo nenhum para si própria, que os males da sociedade desaparecerão. Mas isto parece conversa de mulher plenamente resolvida e determinada, não é? Pois desenganem-se caros leitores, porque estas questões atormentam-me tanto como a qualquer outra. Eu acho que só agora começo a encarar esta "profissão" como sendo realizadora a nível pessoal. Porque passei uma vida a estudar e a certa altura a trabalhar também, com a ideia de que nunca na vida seria "apenas" dona de casa. Sendo que o "apenas" significava pouco, senão mesmo nada, pessoalmente recompensador. Educada estudando para me formar, com toda a gente a dizer-me o toda a hora que sem um curso superior não se é ninguém, não se consegue um bom emprego... Imaginam a minha frustração ao receber respostas em entrevistas de empregos como esta: "Lamento, mas tem habilitações a mais!". Ou simplesmente nem sequer ser chamada para entrevistas, provavelmente por causa dessas mesmas "demasiadas" habilitações. Ora como eu, há muito boa gente por esse Portugal fora. E, voltando à conversa da Biblioteca, que afinal é suposto ser o tema deste post (que já virou desabafo!!!), verificando ser essa a situação de muitas mães, a Biblioteca resolveu estabelecer esta ponte para que nos possamos sentir integradas e não fiquemos jogadas entre a casa, o supermercado e a escola dos filhos, num currupiu diário, com intervalos para espreitar os "tristes" programas das manhãs e tardes na TV, que têm "a lata" de se dizer feitos para donas de casa e reformados. Parece é que ainda não perceberam que as novas donas de casa já não têm apenas os clássicos interesses e aquele "deprimente" gosto musical com que eles insistem em rechear os ditos programas.
Ui, tanto protesto!!! Eu hoje acordei particularmente inspirada, é o que é! E também não sei porque é que fico espantada com isso, e que continuo a tentar reprimir este meu impulso. Parece-me coisa de mentalidade antiga! Ninguém escapa, amigos! Temos que nos auto-disciplinar a reprogramar o próprio cérebro. :)
Bem, mas isto tudo para concluir que considero fundamental, para a melhoria da sociedade (essa massa abstracta que afinal somos todos nós), que "Dona de Casa" passe a ser uma profissão reconhecida e justamente remunerada pelo estado. Pois é nela que assenta o bom e o mau da sociedade. É muito cómodo dizer-se: "Ahh e tal, é mal formado porque não teve educação em casa!". Só que provavelmente essa mãe estava demasiado ocupada a ser mais produtiva do que os seus colegas homens no trabalho, para ganhar menos e mesmo assim não arriscar ser despedida, por ter estado uns meses de licença de parto aquando do nascimento do único filho. Do pai nem falo, mas certamente também não cumpriu o seu dever. Não pensem com isto que sou feminista fundamentalista, pois sei que há excepções, é há muito boa senhora que abusa da sua condição feminina para se fazer valer de mais direitos. Mas regra geral somos ainda muito discriminadas. E, ao contrário do que se possa pensar, essa discriminação não é apenas laboral. É em todo o lado, na vida em geral, muitas vezes somos nós próprias que nos descriminamos pensando: "Devia arranjar mais tempo para fazer isto melhor, ou mais aquilo, porque o coitado do marido já vem cansado do trabalho e precisa de descontrair um bocadinho a ver televisão"! A diferença é "só" que ele já trabalhou e agora está em descanso. E nós? Quando é que chega a hora do nosso descanso? Quando finalmente vamos para a cama e as dores nas costas não nos permitem ter o sono reestabelecedor que devíamos?
REBOOT minhas lindas, ou melhor, toda a gente!!!
RESET, REEINSTALL AND REBOOT!!!
Por falar em biblioteca: os livros da minha filhota já estão no blog dela.
13 comentários:
OLÁ MINHA LINDA ADOREI ESSES TRABALHOS E OLHA QUE LINDA FICOU A (M) SEM O DENTINHO DA FRENTE MINHA JOANA TAMBÉM JÁ ASSIM ESTEVE E FOI LOGO SEM OS DOIS,RSRSRS ELES SÃO MARAVILHOSOS,BEIJOS E MUITAS FELICIDADES...
Olá!
Bem mas que inspiração!
Eu subscrevo!!!
Se fizeres um abaixo assinado eu quero ser a 1ª a assinar!
Me identifico demais c/ o que escreves!
Quando dei o meu grito de Ipiranga... morreu a Paula e nasceu a Ana... tem sido uma luta bem dificil... mas assumi que as coisas tinham que mudar... começando por mim mesma... e quem ñ gosta ponha à borda do prato...
Mantenho os meus principios... mas ñ alinho em regras inventadas por comodistas...
E a remuneração p/ Dona de Casa... já tarda!
As n/ opcções... desde que ñ prejudiquem os outros... são p/ ser respeitadas!
Tb estive em casa nos primeiros anos de vida do Bruno (por opcção)... e sei bem o que passei... assim como nem imaginas a tortura que foi... regressar ao mercado de trabalho...
A indignação é um direito... de quem vive!
Pois à muito morto-vivo por aí!
Lindo caixinha!
E parabéns a quem tem coragem de pensar mais além...
Bjs
Biblioteca maravilhosa estou a ver.. a caixinha ficou linda!
Beijinhos
Nádia
Gostei do post...
...especialmente do título!
Ainda bem que assim é, e que as bibliotecas tentam fazer o que podem e como podem para cativar o público!
Não esquecer que eu sou Técnica de Biblioteca, hehehe!!!
Beijocas
boas*** td bem?
mas que bela visita...
fico sempre muito contente, tal como tu,lol...
adorei este post, no sentido em que me senti totalemte inserida.
isto porque actualmente, como acho que já partilhei contigo...é a minha realidade também.
sempre a fazer o mesmo e sempre a ouvir comentários nada simpáticos.
também estes dias, temos andado a discutir imenso este assunto nas aulas.
e falaste muito bem aqui...
em relação à biblioteca, uma excelente iniciativa...parabéns.
gostei imenso também da caixinha.
fica bem,jinhos***
Olá!!
GRande post este...e forte!
MAs é bem verdade...e independentemente das gerações...a verdade é que as mulheres continuam a ter od deveres de antes, aos quais foram acrescidos os direitos de agora...Enquanto que para lado masculino pouco mudou.
Pois é...lá em casa vivo com o meu pai...acaba por ser como se fossemos um casal...porque eu sou a mulher da casa, com todos os deveres que qualquer outra mulher tem...e o pai (que é uma excelente pessoa) ajuda la´de vez em quando, porque insisto...mas a verdade +e que continua a ser a minha obrigação de deixar tudo na ordem...
Simplesmente porque...sou mulher...e lá se vai o facto de também ser a filha...e de também trabalhar e ter algumas outras responsabilidades...
O pai só trabalha (e não é pouco é verdade), mas não tem extras...e à noite ele adormece a ver tv...e eu vou arrumando aqui, navegando ali, limpando acolá, espreitando a tv...e quando já é tarde...lá vou dormir com o pensamento..."ficou tanto por fazer"
...
LOL
Acabei por desabafar também...
=P
Agora sobre o post...Adoro bibliotecas [mas há seculos que lá não vou=( ]...e a caixa está linda!!!!!!!:)
Oii minha querida !!!
Nossa...esse desabafo (totalmente endossado por mim:) cabe direitinho na realidade do Brasil.
E o pior, é que as vezes muitas são as mulheres que criticam quem não trabalha, por achar que é menos capacitada.Eu não trabalho mais, por opção.Escolhi criar e formar a minha filha, e não me arrependo disso. Conhecimento nunca é demais e serve sempre.:)
Belissimo trabalho esse desenvolvido na biblioteca...bela iniciativa.
A mulher que trabalha e ainda tem as tarefas de casa é uma verdadeira guerreira ...eu admiro essa luta.E os maridos tem que ajudar sim.Pq eles tem que descansar e elas tem que fazer o terceiro turno?!?
Ave, tô falando a beça...mas não saio sem dizer que vc é de fato uma excelente escritora e que não podeia ter escolhido melhor a tua profisssão.:)
Beijinhos com muito carinho
Ana
Olá!
Isso é que foi inspiração!!
Agora respira!! Vá! Deita o ar cá para fora! fuuuuuuuuuuuuu... isso! ;)
Olha, estou a seguir o que me parece ser um ritual e é primeira vez que o faço: vai ao meu post de hoje, tenho lago para ti e para os teus dois blogs.
Beijocas
Olá!
Tenho andado completamente cheia de trabalho: acções de formação por causa dos novos programas de português que arrancam já para o ano e que trazem tantas novidades e tanto para estudar e trabalhar: realização de materiais, preparação de oficinas de escrita e de leitura, integração das TIC, etc., etc., etc, que nem tenho tido tempo para dar aqui um saltinho. Além disso, tenho um projecto na biblioteca da escola que estou também a preparar. Neste momento já me cederam um espaço, que vou decorar com os alunos: vamos pintar nas cortinas as ilustrações de passos das histórias que eles gostam, desenhar e pintar as personagens, o espaço onde decorre a história; fazer painéis; ensiná-los a bordar, a fazer tapeçaria, primeiro para tornarmos a nossa "Oficina das artes" bem bonita e acolhedora e depois tratar da decoração das salas de aula do 1.º ciclo, torná-las o seu espaço, com decorações criadas pelas crianças e executadas em parte por elas, dar um ar mais acolhedor às salas de aula, fazê-las mais alegres, onde os miúdos se sintam realmente integrados, porque planearam e executaram a decoração das suas salas. Depois destas tarefas concluídas, na oficina, eles vão aprender e fazer o que gostarem mais: pintura de t-shirts com as suas personagens favoritas, ponteiras para os lápis, porta-canetas, presentes para oferecerem ao pai, à mãe... Ideias não faltam e os alunos estão cheios de pressa, querem fazer coisas...
Bom, já chega!
Bem, menina, estavas super inspirada quando escreveste o texto deste post! Adorei todo o texto e subscrevo-o integralmente. Quanto à dinamização da biblioteca da escolinha da M, acho esse projecto muito interessante, parecido com o meu, só que este ano, não prevemos inserir os pais. A escola é enorme, há 3 ciclos, muitos alunos de idades bem diferentes (dos 5 aos 18), muitos professores, e a biblioteca torna-se pequena para esse tipo de iniciativas. Há horas em que não temos um espacinho livre, logo só quando tivermos mais espaço ou mais um espaço... é que a biblioteca tem também uma área para os alunos visionarem filmes, ouvirem música, trabalharem nos computadores, uma zona onde jogam xadrez, damas e outros jogos do género... Faz-se o que se pode...
Bj
Mena
Ah, vou visitar e brincar com a M.
Olá
Vim fazer uma visita com tempo e ver tudo.
É por tudo isto e muito mais que continuo a vir cá!
Tem um bom fim de semana
Um abraço
Teresa Vidinha
Olá linda
Bem já queria ter comentado á uns dias, mas não deu.
Como sabes tenho duas filhas, a Bea com 7 anos e a Mimi com quase 4. O meu grande sonho é poder ficar em casa para as acompanhar mais de perto. Até agora por motivos monetários, não deu. Sabes nos últimos meses tenho tido bastantes problemas na empresa onde trabalho, portanto acho que um dia destes vou ganhar coragem e vir tratar das minhas biscoitinhos.
Tambem é certo que quando uma mulher está em casa dizem que " não faz nada ", a verdade é que quando estamos em casa passamos a ter só um trabalho, em vez de dois.
O nosso governo em vez de pagar rendimentos minimos a quem não merece, deveria era de olhar mais pelas mulheres que são mães e querem ser donas de casa a tempo inteiro.
Desculpa o desabafo
Beijinhos Grandes
Patrícia
Adorei o desabafo!! Também eu me questiono muitas vezes se esta vida ocupadíssima que levo, muitas vezes frustada por não conseguir fazer tudo o que era suposto é a melhor... infelizmente, a vida não nos dá grandes hipóteses: casa para pagar, infantário, comida, roupa, àgua, luz, etc, etc e enfim lá vamos conciliando a vida de profissional com a vida de mãe. Nem sempre é fácil e nem sempre motivador, mas enfim... melhores dias virão! Bjs grandes para ti!
Estou absolutamente deliciada com este teu desabafo... desde a biblioteca (que é, de facto, um ser) e essa iniciativa fantástica, passando pela deprimência desses tais programas de TV que referes, feitos certamente para atrasados mentais (Deus me perdoe) até à tua tendência para reprimires a tua impulsividade... sabes que eu padeço do mesmo mal?? Sabes que um dia me meteram numa sala de aula com uns quantos meliantes e me disseram: agora amanha-te!! E eu, pensando não só em mim, mas também nas outras crianças que ali estavam e que não tinham culpa nenhuma do fenómeno, amanhei-me... dou-me muito mais ao direito de disparatar do que dava antes de exercer esta profissão... é preciso é cuidado para não falhar o alvo, que é o que acontece a muito professor cansado... mas faz falta. Sabes que na festa de Natal da minha escolinha do coração, uma senhora levantou-se para ver uma actuação e ginástica que era no chão e, eventualmente se via melhor se as pessoas ficassem de pé, colocando o seu fabuloso casaco verrrdeee na frente dos meus olhoss, tendo a minha pessoa deixado de enchergar fosse o que fosse não ser verde, verde e mai verde!! E bibó berde, não sou do Sporting, mas sou uma amante da natureza eheheh, mas poça, tal coisa tudo quanto é de mais enjoa... disparatei sozinha num tom que quem estivesse por perto ouvisse... mas depois achei que bastava ter chamado a atenção da senhora e dito que ela estava na minha frente... :P Mas não ando com paciência sabes? É daquelas coisas que tem de ir lá com o tempo... É porque este tipo de situação é um desperdício de energia; tenho de a guardar para situações como a que me aconteceu no outro dia, numa reunião de avaliação: fui subtilmente criticada por uma colega por ter dado 4 a um miúdo que sozinho tem dificuldade em concentrar-se, mas se se puxar por ele, acaba a ter um bom desempenho... aí SIM a malta TEM MESMO de deitar as unhas de fora... se não comem-nos por parvas, e passam-nos com os seus belos "tractores" por cima... felizmente mantive a serenidade e fui capaz de lhe dizer que é um miúdo a quem temos de nos DAR AO TRABALHO de tentar puxar... mas acho que ela teria merecido pior... bem pior... :P
E só não respondo devidamente nestas alturas precisamente pelo triste hábito de quando digo certas coisas vir para casa remoer se fui ou não injusta... ai amiga, mas isso em 2010 vai deixar de ser assim ahahah!! Até já meditei para isso; não há nada de mal em responder à letra... :) Quem diz o que quer ouve o que não quer, ora não é assim? Beijoss!!
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