26 abril 2012

25 de abril sempre...

Exercendo o meu direito de dizer o que penso em liberdade, conquistada há 38 anos, nesta mesma data, com a Revolução dos Cravos, aqui venho atestar o meu descontentamento quando vejo o estado em que as coisas estão. É triste, mas é assim que se assinala este memorável aniversário no Bom Feeling, porque acho mesmo urgente que se mudem mentalidades e atitudes.

Rob Riemen, filósofo holandês, esteve em Portugal à conversa sobre o “eterno retorno do fascismo” (título do seu mais recente livro). Li a entrevista que deu ao i e identifiquei-me muitíssimo com as suas palavras. Como diz o maridão, é como se ele verbalizasse os nossos pensamentos.
O meu objectivo, aqui, era apresentar uma ou outra frase chave desta entrevista, deixando-vos os link para quem a quisesse ler na íntegra. Mas o homem é tão bom e toca exactamente na ferida, que não resisti a deixar aqui um pouco mais do que inicialmente pensei. E o link, claro, fica aqui também à disposição de todos: entrevista a Rob Reimen.

Começa logo por comentar uma notícia da actualidade, a agressão da polícia à fotojornalista Patrícia, numa recente manifestação, as palavras de Riemen foram: «Estamos a lidar com o pânico da classe dominante, que se habitua ao poder para controlar a sociedade. Isso (...) é um acto de pânico. E o interessante é que a classe dominante só entra em pânico quando perde a autoridade moral. Sem a autoridade moral, só lhe resta o poder que se transforma em violência.» E eu acrescentaria que só lhe resta a prepotência!

Acerca do fascismo: «A minha geração cresceu convencida de que o que os nossos pais viveram nunca voltaria a acontecer (...)» «Mas uma geração depois, já estamos a assistir a uma espécie de regime fascista (...)»

«A actual classe dominante nunca será capaz de resolver a crise, porque ela é a crise! E não falo apenas da classe política, mas da educacional, da que controla os media, da financeira, etc. Não vão resolver a crise porque a sua mentalidade é extremamente limitada e controlada por uma única coisa: os seus interesses. Os políticos existem para servir os seus interesses, não o país. Na educação, a mesma coisa: quem controla as universidades está ali para favorecer empresas e o Estado.»

«No geral, os media já não são o espelho da sociedade nem informam de facto as pessoas do que se está a passar, existem sim para vender e vender e vender.»

«Tudo é baseado na premissa de que as pessoas devem ficar mais ricas e é daqui que vem a crise financeira, daqui e deste comportamento totalmente imoral e irresponsável de um pequeno grupo de pessoas que não podia importar-se menos [com a sociedade] e sem interesse em ser responsável.»

«A classe dominante teme que as pessoas comecem a questionar tudo?
Claro que sim! (...) Existe uma elite comercial e política interessada em manter as pessoas estúpidas. E isso é vendido como democracia, porque as pessoas são livres de escolher e blá blá.» - E aqui remete-me para as palavras de Saramago.

«[Bento de] Espinoza (...) explicou que a essência da democracia é a liberdade, mas que a essência da liberdade não é teres o que queres; é usares o cérebro para te tornares num ser humano bem pensante. Se não for assim, se não fores crítico perante a sociedade mas também perante ti próprio, nunca serás livre, serás sempre escravo. Daí que o que estamos a viver não tenha nada a ver com democracia.»
«Vivemos numa democracia de massa, uma mentira que abre os portões a mentirosos, demagogos, charlatães e pessoas más, (...).»

«Aí percebemos que há coisas erradas no sistema de educação. (...) Porque não está interessado na pessoa que tu és, mas no tipo de profissões de que a economia precisa. Se o preço é falta de qualidade, se o preço é falta de dignidade humana, é haver tanta gente jovem sem instrumentos para lidar com a vida e para descobrir por si própria o sentido da vida ou que significado pode dar à sua vida, (...)»

«(...) se toda a gente vai à escola, se toda a gente sabe ler, se tanta gente tem educação superior, como é que continuam a acreditar nestas porcarias sem as questionar? E porque é que tanta gente continua a achar que quando X ou Y está na televisão é importante, ou quando X ou Y é uma estrela de cinema é importante, ou quando X ou Y é banqueiro e tem dinheiro é importante? A insanidade disto... [suspiro] Se tirarmos as posições e o dinheiro a estas pessoas, o que resta? Pessoas tacanhas e mesquinhas, totalmente desinteressantes. Mas mesmo assim vivemos encantados com a ideia de que X ou Y é importante porque tem poder. É a mesma lengalenga de sempre: é pelo que têm e não pelo que são, porque eles são nada. E a educação também é sobre o que podes vir a ter e não sobre quem podes vir a ser.»

«(...) chegar ao que penso que é essencial: que as pessoas possam viver com dignidade, que aceitem responsabilidade pelas suas vidas e que reconheçam que o que têm em comum – quer sejam da China, Índia, África ou esquimós – é que somos todos seres humanos. Sim, há homens e mulheres, homossexuais e heterossexuais, pessoas de várias cores, mas somos todos seres humanos. Não podemos aceitar fundamentalismos e ideologias e sistemas económicos como o capitalismo, mais interessados em dividir as pessoas do que em uni-las

«Quem quer matar a cultura são as pessoas mais estúpidas e vazias do mundo. Claro que é horrível para eles olharem-se ao espelho e verem “Sou apenas um anão estúpido”.
Por isso querem livrar-se da cultura?
Por isso e porque ela ajuda as pessoas a entender o que realmente importa. O medo da elite comercial é que as pessoas comecem a pensar. Porque é que os regimes fascistas querem controlar o mundo da cultura ou livrar-se dele por completo? Porque o poeta é a pessoa mais perigosa que existe para eles. Provavelmente mais perigoso que o filósofo. Quando usam o argumento de que a cultura não é importante e de que a economia não precisa da cultura, é mentira! Isso são as tais políticas de ressentimento, um grande instrumento precisamente porque eles nos querem estúpidos.»

«A geração mais jovem tem de questionar as elites de poder. (...) percebes que não estão no poder para te servir, querem é que a sociedade os sirva.»

«Nobreza de espírito é a dignidade de vida a que todos podem ter acesso e é a essência da democracia. O espírito democrático é mais do que ir às urnas e se eles [políticos eleitos] não se baseiam nessa nobreza, os sistemas colapsam, como estão a colapsar.»

«(...) protestar não basta. (...) Acho que agora [(a mudança)] vai ter de vir dos jovens. Se isto continuar por mais três ou cinco anos, o seu futuro estará arruinado, não haverá emprego, casas, segurança social, nada. É tempo de reconhecer isto, de o dizer publicamente, de parar e depois avançar. Se os jovens pararem os jornais, os jornais acabam. Se os jovens decidirem que não vão à universidade, ela fecha.
Mas parece não haver união para isso.
É preciso solidariedade! Será que é preciso ir ver o Batman outra vez? Qual é o papel do Joker? É dividir as pessoas! »
Os actuais políticos são Jokers?
No mínimo não estão a fazer o que deviam. Não estão a dizer a verdade. (...) Temos de investir no futuro. Como? Investindo numa educação como deve ser, que garanta seres humanos bem pensantes e não apenas os interesses da economia. Investindo na qualidade dos media... O dinheiro que demos aos bancos é milhões de vezes superior ao que é preciso para as artes, a cultura, a educação...»

«Lição aprendida: há que controlar o poder, venha ele de onde vier. (...) todos têm de aceitar uma certa responsabilidade. Os intelectuais têm de se manter afastados do poder, porque só assim podem dizer a verdade. Os media também, porque sem sabermos os factos a democracia não sobrevive. Se esses mundos de poder não tiverem total controlo, as pessoas têm tentações. Quem tem dinheiro quer mais dinheiro, quem tem poder quer mais poder. E há que garantir a distribuição equilibrada destas coisas na sociedade.»

«Quando estava na universidade percebi que já não é o sítio onde podemos adquirir conhecimento e onde há conversas intelectuais, essenciais à evolução.»

Este homem não tem papas na língua! :)
Olha Rob, se eu fosse do género de ter ídolos, tu certamente serias um deles!

3 comentários:

mfc disse...

É preciso pensar como chegamos a este ponto e pensar para onde caminhar agora!
O caminho é pensar... sem medos!

xunandinha disse...

Tens toda a razão eu nunca pertenci a partidos politicos mas havia um grande senhor que me fazia pensarem concordar com ele ,mas infelizmente morreu ou mataram-no,mas continuei de longe observando o que diversos partidos fazem ou não fazem, curiosamente durante mais de vinte anos quando eram as autarticas eu votava pcp para ver se o presidente da junta de Alcantara se mantinha no cargo,pois era um homem que ajudava os pobres as escolas, a terceira idade, os jovens...mas sabes que por vezes as pessoas encostam-se um bocado e eu decidi não lhe dar o meu voto e ele perdeu a junta de freguesia para o psd, partido com o qual eu simpatizava,olha é quase fascismo,fui maltratada por um senhor que já foi vereador na Câmara e a presidente da junta e ele queriam saber o porquê e o que é que eu fazia na escola, referindo-se a mim como essa mulher,Claro que eu não lhes devo satisfação, mas se me pudessem tirar da escola tiravam, mas como sou voluntária, ainda não o conseguiram, até porque nunca mais liguei a essas pessoas, para mim é mais importante um rato.
BEIJINHOS PARA AS TRÊS

Marta Machuqueiro disse...

Obrigada pela divulgação.
*

Related Posts Widget for Blogs by LinkWithin